O colecionador de arte catalão Manuel Menéndez expressa forte crítica as pinturas do artista plástico Luiz Bhittencourt do conjunto de sua série Consagrados de Santa Ceias e Reflexão, destacando em sua crítica para obra “Séculos de Sangue! Por Deus ou pela Igreja?” pintada em óleo sobre tela pelo artista. A pintura mede 180 X 100 cm e foi pintada na cidade de Formosa, Goiás, Brasil e atualmente encontra-se em Coleção Particular. Ele cita também em sua crítica uma obra de São Bento pintada pelo artista e as pinturas Santa Ceia Cálice e Luz e Santa Ceia Cálice de Sangue. Sege a crítica que foi em referência a Coletânea da religiosidade de Luiz Bhittencourt.
“Exercício difícil para mim hoje introduzir Luiz Bhittencourt artista renomado no Vale do Paraíba, mas também internacionalmente. Luiz tem 17 pessoas que cuidam de sua imagem, clientes em todos os lugares, instituições, organizações e corpo diplomático que compram seu trabalho.
Ele possui obras em mais de 20 países. Ele possui também obras vendidas por todo o país por arquitetos nacionais que a divulgam em todo o Brasil. E vem a pergunta fatídica. O que eu posso acrescentar, sendo um simples diretor da Alliance Française em sua obra sendo eu laico? Então olhei para as obras. Tentei agarrar-me a alguma corrente pictórica para dar-me segurança as interpretações. Eu pensei em impressionismo, cubismo, expressionismo e mesmo matierismo mas nenhuma me dava satisfação por que Luiz é inspirado em todas elas sem cair em nenhum destes estilos. E isso em si não é apenas banal. A primeira coisa que surpreendeu quando eu recebi o convite da ilustração era que se perecia com obras de pintura Catalã romântica. Diferente da expressão bizantina ou Italo bizantina descritiva dos rostos que são bastante graves e uniformes. Características também da visigótica caracterizados por suas cores amarelas berrantes com figuras de crianças, com uma grande forma humana. Claramente evocam a arte medieval por que o objetivo é o mesmo: para ilustrar os momentos bíblicos ou religiosos em busca de luz, em busca de Deus, como é o caso de Luiz. Mas Luiz também é um homem de seu tempo e recorre através de suas obras a História da Arte. Entendia no sentido de que Borges disse sobre a literatura que eles retornando, as obras de Luiz sempre escrevem o mesmo livro. E evidente que o cromatismo e as pinceladas fortes estão relacionadas a Van Gogh e a Picasso em seu período azul até mesmo através de seus famosos quadros Les Demoiselles d’Avignon (que não tem nada a ver com essa cidade francesa, mas com Avinyó Carrer de Barcelona, onde Picasso viveu e onde ele localizou o bordel da burguesia catalana).
Obviamente Luiz, remove todas as referências aos seus arabescos, motivos arquitetônicos, arcos entrelaçados, ferraduras e caprichos de arte medieval. Ele se preocupa mais com as perguntas que as respostas. Recorre a pintura como em um ato desesperado de experiência interior, de introspecção e de espiritualidade. Os rostos são representados através de uma perspectiva de vida e não de sono ou de contemplação. Talvez em uma tentativa de tirar o homem da sua inercia quotidiana da sua indiferença face ao essencial da vida. Homem! Pare! Olhe ao seu redor, o que lhe dá vida, mas também sonda o que está dentro de você.
Os títulos de Luiz são impressionantes: Bento Santo / Santa Ceia, Traição de Judas / Santa Ceia, Cálice de Ouro / Santa Ceia Gore / Consolador / Santa Ceia, Cálice de Luz / Sana Ceia, Cálice de Sangue.
Estas evocações de sangue me faz pensar nas procissões da Sanch (ato curioso que é uma mistura de religião e de cultura popular catalã), que acontece em Perpignan, cuja vocação principal foi de acompanhar os condenados à morte o que fez que se protegessem com capuzes pretos e vermelhos.
Mas deixe-me parar no trabalho e obra impressionante: Séculos de Sangue, Por Deus ou pela Igreja?, que foram realizados pela igreja em nome de Deus. Um exemplo claro foi a inquisição que excursionou pela Europa durante séculos. Uma série de cruzes vermelho sangue, até o infinito em uma paisagem deserto onde figura humana está ausente mais ao tempo raivosamente presente. Frente a esse quadro você se sente desamparado, sozinho. A solidão do homem sobre a terra, nascemos sozinhos e morremos sozinhos, mas também frente as dificuldades da vida estamos sozinhos. São vidas essas cruzes? Cruzes como vidas sacrificadas? Em nome de quê? De quem? Luiz expressa uma dualidade preocupante com essas duas cruzes na seção de Ouro do quadro: bem / mal; luz / sombra; vida / morte; vício / virtude; Deus / diabo. Ou essas cruzes são simplesmente todas as eleições ou renúncias que os homens e as mulheres fazem ao longo da vida? O pai de Albert Camus disse: “un homme, ça s’empêche”. Uma cruz preta, uma branca, a última felizmente com mais presença e relevo. Uma Via Crucis particular, as interrogações silenciosas de Luiz criam em mim um sentimento de dúvida. Não em vão, ele tem uma série chamada dualismo que expressa claramente a luta entre o bem e o mal. Cuidado Luiz, eu morava e trabalhava no país cátaro, e os primeiros que expressaram essa dualidade terminaram na fogueira!
Vamos fugir das chamas e acabar com uma nota mais filosófica: E se através de seu trabalho imbuído de religiosidade, Luiz Bhittencourt colocasse a dúvida por excelência, a Dúvida Maior a dúvida sobre a existência de Deus. O caminho de Deus é cheio de dificuldades. O caminho da vida é cheio de contra tempos, lutas. Da mesma forma que Luiz em toda a sua obra, tende mais a questionar-se que a procura de respostas. Talvez ele nos está dizendo que Deus é um itinerário. A vida é um itinerário”.
Por Manuel Menéndez
Master – Direction Projets Artistiques, musique et arts de la scène. montpellier III; Master – Administration et Gestion d’Entreprises Culturelles. Mention T.B. Barcelone; D.E.A. – Etudes Mexicaines. Université de Perpignan; Licence – Filologia Hispánica. Université de Barcelone; Maîtrise – Espagnol. Université de Montpelier III; Licence – Espagnol. Université de Perpignan; Directeur d’Alliance Française Vale do Paraíba; Autor, escritor, poeta de livros publicados de poesias e contos.