Dom Abade Joaquim Arruda Zamith, O.S.B.

Intelectual; Doutor em Filosofia pelo Pontifício Ateneu Santo Anselmo – Roma – Itália; Abade Emérito do Mosteiro de São Bento – São Paulo – Capital; Abade Emérito Presidente da Congregação Beneditina Brasileira; Membro da Comissão de Tradutores da Bíblia Jerusalém; Autor de diversos livros publicados, sendo o último: “Ensinamentos de um Abade”.

“Acolher com o coração significa de certo modo abrir-se para o que as obras de Luiz Bhittencourt nos revelam: o ser, a verdade, a beleza. Como é difícil “expor-se à luz da verdade e da beleza”. Quase instintivamente o homem tende a se fechar a essa luz. Por que será que tal medo costuma parecer? Talvez por que a luz que emana da verdade e da beleza também nos interroga, nos questiona, e exige de nós uma resposta. Assim, em lugar de aceitarmos ser iluminados, isto é, interrogados e questionados, nós procuramos fugir, através de muitas perguntas que fazemos para nos defender.

Do mesmo modo, diante da suprema verdade que Cristo revelava, sobretudo os poderosos, os que se julgavam sábios, para não se comprometerem com as palavras, a verdade e a beleza de Jesus, eles lhe propunham muitas perguntas: “Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo fortemente e a persegui-lo com muitas perguntas”. (Lc.11:53)

Será interessante comparar tal atitude com outras semelhantes, de pessoas que ao se colocarem diante de um quadro, de uma obra, em lugar de se concentrarem e em silêncio permitirem serem como que “atingidos” pela verdade ou a beleza, procuram logo fazer muitas perguntas ao artista sobre o significado de tal figura, sobre o tema, sobre o título… justamente para não serem eles mesmos interrogados pelas perguntas silenciosas que brotam da obra.

E para não cairmos nós também nesta armadilha das perguntas com que queremos nos valorizar ou defender, se temos uma palavra oportuna, ainda que um tanto severa, de um poeta alemão mas bem conhecido entre nós, ele respondia as cartas e orientava e aconselhava um jovem que desejava ser um bom poeta. Em uma dessas cartas, em que o jovem lhe havia feito demasiadas perguntas, Reiner Maria Rilke lhe responde: “Você é tão moço, tão aquém de todo começar que lhe rogo, como melhor posso, ter paciência com tudo o que há para resolver em seu coração e procurar amar as próprias perguntas como quartos fechados ou livros escritos num idioma muito estrangeiro. Não busque, por enquanto, as respostas que não lhe podem ser dadas. Viva, por enquanto, as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que perceba, em um dia longínquo, você consiga viver a resposta”.

Assim, são as obras de Luiz Bhittencourt, observe-as silenciosamente deixando brotar as perguntas silenciosas da obra e as viva simplesmente.”

Em referência às obras da série Cerâmica, Monastério e Inspiração na Iconografia