Balbina da Conceição Valdivia Hernendez

Psicóloga Clínica; Formada pela Universidade de Guarulhos, SP;

Membro da Casa Recomeço – Casa de Apoio ao Paciente Oncológico;

Trinta anos em atuação clínica psicológica a crianças especiais, crianças super dotadas e em tratamento oncológico.

INTERAGINDO COM AS JANELAS

Na série, Janelas e Percepção, Luiz Bhittencourt nos revela mais que traços e cores. O artista reflete em suas obras o contraditório e o heterogêneo: cores duras contrastam com a fragilidade de outras sutis como se o sangue transbordasse no branco revelando as várias nuances da vida.

O interessante, nestas obras, é poder interagir com a arte e Luiz Bhittencourt nos dá essa oportunidade. Observando as janelas podemos decidir se queremos ultrapassar “uma janela” para dentro, para o escuro… Ali podemos vivenciar nossas fantasias e o desconhecido. Você tem coragem de se atirar para dentro da janela? Ou vai ficar nem dentro nem fora, entre a luz e a escuridão?

O outro lado, desconhecido, é o nosso mundo interior sombrio (ou não), é onde nosso “eu” pode se expor sem medo de julgamentos, sem conceitos pré-estabelecidos. A liberdade está lá. As flores e a natureza nas janelas parecem camuflar e proteger a intimidade de olhares “voyeurs”.

O artista mostra-se – a meu ver – em cores vibrantes, alegres, muitas vezes isoladas como se ali houvesse um misto de segregação não pretendendo entrar em contato com a dor. Um olhar mais atento às suas obras, percebemos lacunas e espaços vazios que remetem à solidão, como um elemento único perdido em um lugar que não lhe pertence.

Nada, nada “nestas obras passa em branco” Note-se que algumas janelas são abertas para a vida e para a luz, outras meio abertas e outras envidraçadas… e fica aqui o alerta: atirar-se numa vidraça tem seus riscos e consequências. Quem vai juntar seus cacos? Você é capaz? Prudência ao escolher sua janela: observe e avalie; e se você tiver coragem, ousadia e atrevimento, atire-se para dentro, bata de frente e encare seus monstros sem medo e recolha seus cacos. Depois disso pode pular a janela para fora! Você terá dado um passo para a liberdade.

Mas não são só janelas nas obras de Luiz Bhittencourt: observando atentamente, figuras humanas se confundem com as janelas, mas o mais intrigante são detalhes que remetem à infância através de roupinhas, objetos lúdicos e figuras infantis, e nesse sentido essa infância não faz parte do cotidiano “como um todo” dessas janelas; são detalhes da obra, isolados, perdidos, sem muito contato com a obra em si. O artista não inseriu a infância como fazendo parte do cotidiano “das janelas” ela está segregada em pequenos espaços, pelos cantos…

A percepção de cada um, em relação às obras, é individual e única. A série “Janelas e Percepção” traz para o observador a oportunidade de refletir e criar sua própria percepção em cada detalhe projetando na obra suas convicções.

Quer visualizar luz além da janela que escolheu? Vá em frente! O seu olhar é individual e único! E, se por enquanto não for o momento certo de pular a janela, não se apresse, você saberá a hora certa de enfrentar seus monstros e seus medos. E como raramente ficamos totalmente dentro ou fora, vamos “ficando na janela” perdendo a chance de explorar os conteúdos de nossas mentes.

Janelas, ah as janelas misteriosas, receptivas, atraentes, que guardam segredos inconfessáveis e tão suscetíveis às interferências lá de fora…

Vamos, decida-se! Qual janela você escolhe? Vai ficar “na janela” ou vai pular para o escuro?

Referente a série Janelas e Percepção